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Avatar: O Caminho da Água

por Guilherme Salomão

18/12/2022; Foto: Divulgação

O cinema épico de James Cameron ganha mais um capítulo.

Após treze anos, Avatar: O Caminho da Água, sequência de Avatar (2009), enfim, chegou aos cinemas. Existem três tópicos que parecem se sobressair quando o assunto é Avatar. O primeiro deles é que, a partir de uma análise desses últimos mais de dez anos do cinema blockbuster norte-americano, Avatar, com sua ambição no uso do 3D e da computação gráfica, foi uma obra singular e inovadora - para o bem e para o mal. Por conseguinte, o filme de James Cameron é, ou por sua perfeição técnica ou pela simplicidade de sua história, um notável caso de ame ou odeie. Por fim, mas não menos importante, com essa sequência do longa de 2009, o projeto de um cinema espetáculo, épico e inovador de James Cameron ganhou mais um capítulo, que, igualmente ao seu antecessor, parece destinado a dicotomia dos gostos pessoais.

Na trama de Avatar: O Caminho da Água, após os acontecimentos do longa original, Jake Sully (Sam Worthington) e Ney'tiri (Zoë Saldaña) formam uma família em Pandora. No entanto, com o retorno da ameaça dos humanos, que mais uma vez decidem invadir a deslumbrante lua em busca de sua apropriação, a família Sully se vê obrigada a deixar seu lar em busca de abrigo nas regiões aquáticas de Pandora, enquanto uma nova guerra contra os invasores parece mais uma vez impreterível.

O roteiro de O Caminho da Água parte de um pressuposto previsível e, mais uma vez, bastante simples. A sequência da história se estabelece a partir de um modelo semelhante, em linhas gerais, a um Star Wars: O Império Contra-ataca, onde, após a vitória dos “mocinhos”, chegou a vez dos vilões se vingarem dos heróis que as audiências aprenderam a admirar. Assim, inevitavelmente, o conflito central é quase um repeteco do filme original. Porém, com uma motivação dos humanos ligeiramente diferente, em que a exploração dos recursos de Pandora vem dar lugar, de início, a colonização do lar dos Na`vi, pelo fato da terra estar se tornando em um local inabitável- um argumento válido, porém, não muito inédito, já que, em um exemplo mais contemporâneo, foi visto em longas como Interestellar (2014), de Christopher Nolan.

À vista disso, Cameron, que, além da direção, novamente assina o roteiro do longa, aposta nos desvios narrativos para mostrar às audiências o que a sequência tardia de sua realização anterior como cineasta possui de mais inédito e de melhor com relação à tecnologia (a maior das obsessões do norte-americano enquanto realizador). Assim, estabelecendo quase que um filme a parte para as sequências do universo aquático de Pandora, é aqui em que Avatar: O Caminho da Água brilha, esbanjando justamente o seu fator épico e grandioso, em sequências comandadas de forma “carinhosa” e com muita sutileza por James Cameron, que mais uma vez sabe empregar a tecnologia da melhor forma, encantando as audiências com um uso do 3D e do CGI (imagens geradas por computador) que justificam suas respectivas presenças aqui (sobretudo após anos de utilização em massa das mais genéricas possíveis pela indústria).

Dito isso, pode soar como uma argumentação repetida de uma análise do filme de 2009, porém, é inevitável não exaltar a impactante perfeição técnica de O Caminho da Água. Um longa-metragem onde tudo de mais admirável do primeiro filme apresenta-se com ainda mais grandiosidade e primor nos detalhes. São inúmeros os momentos de planos mais fechados e closes em que o uso do CGI e da captação de movimentos são tão realistas que chegam a parecer maquiagem, com uma atenção fascinante aos pequenos detalhes (dos dentes aos cabelos e textura da pele dos personagens). Cada um dos nativos de Pandora é único à sua maneira, possuindo um diferencial ou uma característica própria, seja isso um adereço, um penteado etc.

Acompanhando o capricho técnico, o ambientalismo de James Cameron, também já visto no primeiro filme, se faz mais uma vez presente. Dessa vez encorpado por uma bela mensagem sobre a água como a base e a origem de todas as coisas - representada por momentos de bastante sensibilidade e beleza narrativa. Além disso, O Caminho da Água é também um longa sobre relações familiares. Nele, cada um dos personagens e núcleos narrativos, desde a família Sully até um grupo específico de criaturas marinhas, possui algum dilema ou questão central, onde, com o desenrolar dos acontecimentos, os conflitos, o amadurecimento, as rivalidades e perdas, que podem parecer pieguismo, mas resultam em uma conclusão funcional no lado sentimental, demarcam essa jornada.

Em suma, em cada uma das cenas de Avatar: O Caminho da Água é possível sentir o quanto de amor que James Cameron sente pela sua realização. A quantidade de “coração” que o cineasta emprega ao seu filme, e a cada um de seus mais impecáveis frames, chega a parecer inacreditável em determinados momentos das mais de três horas de projeção. Assim sendo, independente de tudo, Avatar: O Caminho da Água é uma experiência cinematográfica arrebatadora. Ame ou odeie.


Guilherme Salomão

Redator

Guilherme Salomão é Social Media, Produtor Audiovisual, Colunista e Criador de Conteúdo digital apaixonado por Cinema, Música e Cultura Pop. Administrador por formação, onde foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas”, ele também estudou Produção Audiovisual na Academia Internacional de Cinema.