Biombo Escuro

25ª Mostra de Tiradentes

os dragões

por Tiago Ribeiro

29/01/2022; Foto: Divulgação

Os voos do coming of age brasileiro

O mais novo longa de Gustavo Spolidoro, Os Dragões(2021), alça vôos estilísticos altíssimos, que nem sempre se concretizam na tela da melhor forma. Navegando com uma forte característica de filme de gênero, o longa exibido na 25ª Mostra de Tiradentes navega pelo folk horror e pelo realismo fantástico, confiando sua força nas mãos do elenco de jovens atores. Infelizmente, o resultado não consegue conceber seus mundos mágicos, e tampouco seus temas de amadurecimento. Mas é um que ousa tentar.

A sequência de créditos do filme inicia com uma característica estética marcadamente oitentista, incluindo um "system" de som similar ao boombox e música inspirada no pós-punk britânico da época. Desde já, pela vivência que aparentam ter, os jovens se descolam do lugar no qual vivem, uma pacata cidade interiorana do Rio Grande do Sul chamada Cotiporã. Suas personalidades coloridas e enérgicas opõe-se à pose conservadora e moralista do resto da cidade, muito centrada em torno da religiosidade e do conservadorismo como norteadores comportamentais.

O embate anti-sistêmico dos jovens que começam a amadurecer gera a tensão que vai perpassar todo o filme. O elemento fantástico aparece como puro símbolo do tornar-se adulto, um indivíduo próprio, e a cidade é a força implacável que os segura para baixo. Eles começam a transparecer aparência e habilidades de criaturas mitológicas, cuspindo fogo junto a gritos e ficam com a pele cheia de escamas. As mudanças ocorrem aos montes e o desejo por mais reside no outro lado do rio.

Conceitualmente há bastante valor nos simbolismos construídos, e o flerte com elementos do folk horror na sequência em que os jovens leem uma história antiga funciona. No entanto, falta timing na interação entre os personagens, algo de extrema importância num filme com tantos diálogos, que necessita do carisma coletivo do seu grupo de jovens para se sustentar. A evidente artificialidade das falas dos personagens é provavelmente proposital - mas acabam não resultando em interações cativantes entre os personagens, e isso torna-se gradualmente mais incômodo ao longo do filme.

É uma pena, pois havia muito potencial e carisma nos personagens e nas atuações, mas que não funcionam quando interagindo entre si, resultando em uma mise-en-scène arrastada. Os Dragões até consegue criar imagens marcantes aqui e ali, mas no geral há pouco frisson quando as cenas se desenrolam. As cenas no circo e as nas quais os jovens fogem em retirada na kombi roubada são destaques ruins dessa falta de ânimo que permeia quase todo o filme.

Spolidoro faz um filme repleto de imaginação e de ideias, mas que cai por água na execução, principalmente quando tenta recriar a amizade de seus jovens protagonistas em cena. Assemelhando-se ao mote do romance de formação, a rebeldia fantástica posta em tela é uma que não encontra formas de acender as chamas tão flamejantes gritadas por seus protagonistas.



    Tiago ribeiro

    Editor, Redator e Repórter

    Tiago Ribeiro é graduado em Cinema pela PUC-Rio. É editor, redator e repórter do Biombo Escuro desde 2021. Seus interesses pessoais são teoria cinematográfica, desenho de som e animes.