Biombo Escuro

25ª Mostra de Tiradentes

Poropopó

por Alberto A. Mauad

22/01/2022; Foto: Divulgação

Do misticismo circense às comédias burlescas

Poropopó, de Luís Antônio Igreja, é uma obra que pode até soar, em um primeiro momento, infantilizada. Todavia, é repercutido um universo que homenageia diretamente as grandes referências da comédia burlesca, tais quais Buster Keaton, Harold Lloyd, Jacques Tati e, principalmente, Charles Chaplin.

Em certo sentido, a produção se apropria de uma narrativa contundentemente simplória e minimalista, no qual uma família de palhaços sai da vida no circo para se migrar para a cidade, atrás do bendito sonho de comprar uma casa. Contudo, para o bem e para o mal, a força da película reside justamente nessas situações aleatórias, caricatas, ridículas e físicas.

É até demasiadamente interessante como não há limite definido entre o verossímil, o onírico e o surreal. Aqui, todos esses elementos caminham de mãos dadas. Luís Igreja impõe um mundo onde o plano de fundo circense é de origem bastante fantasiosa e mística. Os próprios protagonistas em si não são pessoas exercendo o papel de palhaço, é tudo uma coisa só, mesclada. Logo, a montagem, a fotografia, os efeitos gráficos, todos giram em torno dessa unidade de excessos exigida.

Entretanto, o maior problema do filme se encontra justamente na execução de sua unidade fílmica. Dado que, por mais que tudo caminhe para essa construção de uma mise-en-scène completamente excêntrica e burlesca, utilizando-se dos mesmos artifícios que os cineastas supracitados, as pequenas e constantes sketchs que ocorrem durante a exibição apenas coçam a sua superfície, e nenhuma delas consegue ser plenamente desenvolvidas, gerando um alívio cômico bem raso e efêmero. Digo isso até das situações chave, que deveriam ser mais trabalhadas, mas que finalizam sendo completamente esquecidas quando chega a cena seguinte.

Ademais, Poropopó também tenta em diversos momentos sair um pouco dessa comédia mais frontal, para uma dramédia um tanto melodramática ou sentimental. O que acaba caindo por terra, à vista de quê a direção novíssima de Luís Igreja não obtém sucesso em conciliar o peso artístico necessário. Até mesmo a cena final que homenageia diretamente o Charles Chaplin, se torna exacerbadamente banal.

Sendo assim, o longa insere esse mundo encantador, místico e surreal em toda a sua área fílmica, que, por sinal, casa muito bem com toda uma ideia circense intrínseca na própria sociedade. Porém, o lado redundante e burlesco, além das situações mais clichês e sentimentais, não conseguem alcançar o mesmo nível.


Alberto A. Mauad

Redator

Estudante de cinema na PUC-Rio, redator do Biombo Escuro e cineasta. Tem interesse pelas áreas de linguagem, história e autorismo cinematográfico.