por Tiago Ribeiro; arte por Maria Silveira
Um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos, Leon Hirszman transitou ao longo de sua carreira entre o documentário e a ficção, geralmente trazendo uma forte alcunha política para seus filmes. Estando no início de sua carreira ligado ao Centro Popular de Cultura, seu cinema é sensível às questões sociais e as preocupações sindicais.
Dois desses filmes fizeram parte das produções que utilizaram-se do som direto, que possibilitou diferentes manipulações da linguagem cinematográfica. Um deles é Maioria Absoluta, um filme elementar de seu tempo. O interesse pela fisionomia dos camponeses e a crueza do retrato da miséria enquadram esse filme, de certa forma, dentro da estética da fome cinemanovista, estando em pé de igualdade a filmes como Os Fuzis e Deus e o Diabo na Terra do Sol.
A possibilidade de gravar depoimentos de pessoas no aqui e agora é utilizada de forma bastante engenhosa por Leon, contrapondo a arcaica ideologia da elite carioca em uma montagem que realça o desprendimento deles da própria realidade brasileira.
O maior problema é o analfabetismo, símbolo da exclusão de participação cívica em nossa história. E Maioria Absoluta cumpre com os preceitos do cinema direto ao ir de encontro a esses excluídos. Apesar de não seguir a risca os preceitos da estética do direto, contendo uma voz em over que amarra ideias e constrói uma narrativa, as vozes dos camponeses são ouvidas e suas ideias parecem mais claras e inteligentes que as da elite na praia.
Com personagens intrigantes e uma chamada para a ação em seu final, este é um dos filmes mais fortes da história do cinema brasileiro, um verdadeiro manifesto artístico em prol da reforma agrária, que não aceita passar despercebido por seu espectador.
Editor, Redator e Repórter
Tiago Ribeiro é graduado em Cinema pela PUC-Rio. É editor, redator e repórter do Biombo Escuro desde 2021. Seus interesses pessoais são teoria cinematográfica, desenho de som e animes.