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Versão em 4K de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” vai ser exibida no festival de Cannes em julho

por Bruna Ximenes

07/05/2022; Foto: Primeiro Plano; Revisão: Tiago Ribeiro

O filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, terá cópia remasterizada em 4K exibida na 75ª edição do festival francês de Cannes. Entre os dias 17 e 28 de julho, esse e outros títulos vão integrar a sessão de gala Cannes Classics, que tem o intuito de preservar o patrimônio cinematográfico mundial. Único filme brasileiro confirmado no circuito desse ano, a obra é um marco do cinema nacional e já esteve na cerimônia francesa há 58 anos, quando concorreu à Palma de Ouro no ano de sua estreia.

Segundo trabalho de Glauber Rocha, e considerado o mais importante, o filme compõe o Cinema Novo, movimento cinematográfico brasileiro conhecido pela estética mais crua e que buscava evidenciar para países fora da América Latina as condições extremas da qual sofriam muitos brasileiros na época. O engajamento com essas questões sociais ganhou ainda mais força no Regime Militar.

O trabalho de restauração da obra foi iniciado em 2019 pela diretora Paloma Rocha, filha de Glauber, e o produtor Lino Meireles no Cinecolor, empresa parceira da Cinemateca Brasileira, local em que a película ficava guardada. O processo foi finalizado em 2022, próximo aos 40 anos da morte do cineasta baiano.

O que não poderiam imaginar era que as cinco latas de negativos 35mm do longa-metragem estariam, mais tarde, sendo poupadas do incêndio que devastou um dos galpões do centro cultural em julho do ano passado, em São Paulo. Outros título de Glauber estavam guardados no que era o maior acervo audiovisual da América Latina, cuja perda é inestimável.

A última reparação de Deus e o Diabo na Terra do Sol havia sido feita em 2002, com a transição para o DVD. Lino espera que o trabalho seja um novo chamado de resistência cultural. Já Paloma observa que a exibição em Cannes completa o ciclo de restauração ao ser reexibido no mesmo local onde teve sua estreia em 64. Além disso, a diretora acredita que o trabalho representou “um esforço de contracorrente. Isso só é possível porque o filme tem a força própria dele”, afirmou.

Bruna Ximenes

Redatora

Estudante de Jornalismo na PUC-Rio, redatora e cozinheira. Adora jornalismo cultural, reportagem e gastronomia